O ano de 2020 ficará para sempre marcado por ter desencadeado uma série de questões, que até ao momento, não tinham sido abordadas com a seriedade que sempre mereceram. Por um lado, uma pandemia que atravessou fronteiras e continentes e nos paralisou completamente. Por outro, simultaneamente, manifestações internacionais, nunca antes vistas tomaram lugar contra a discriminação racial.
De repente, muitas pessoas que até então nunca se tinham manifestado, tornaram-se ativistas e defensoras da luta antirracista, ou pelo menos, defensoras de algo.
Ativismo, por definição, é o ato de defender algo, mas é sinónimo também de manifestação, protesto ou militância. O ativismo, é por isso, um pedido de justiça, um pedido de igualdade e equidade, um apelo à dignidade.
A globalização da Internet, causou transformações no mundo digital, facilitando o encontro e conexão de várias ideias, e a partilha de várias experiências semelhantes entre vários indivíduos. Como consequência, agora mais que nunca, estes cidadãos são os mesmos que hoje participam ativamente nas discussões, tornando-se fonte de informação e, simultaneamente, fonte de referência para essas mesmas discussões. São ativistas também.
Não existe uma forma correta ou errada de nos manifestarmos sobre uma causa, apenas é necessário acreditar, que a nossa ação perante uma injustiça, e a nossa manifestação contra algo que acreditamos ser incorreto, poderá trazer efeitos positivos principalmente se agirmos em comunidade. Vejamos os acontecimentos deste ano: motivados pela morte de George Floyd nos Estados Unidos da América, o chocante vídeo da sua morte trouxe uma discussão séria sobre a temática do Racismo e os seus grandes impactos na comunidade negra em todo o mundo. “I can’t breath”, foram as suas últimas palavras e ecoou em todos os nossos corações. Como comunidade, decidimos agir, decidimos demonstrar o nosso descontentamento e sentiram a urgência em participar de manifestações e protestos! Militâncias que outrora, parecia ser uma luta unilateral, juntou todos e trouxe reais mudanças na consciência de muitos. Brancos, negros, homens, mulheres, crianças, uniram-se, muitos, pela primeira vez para gritar “No justice, No peace” pelas ruas do mundo.
Transformações há muito pedidas, começaram a acontecer: marcas, entidades públicas, empresas, através de tomadas de consciência e pressão pública, pela primeira vez posicionaram-se e tomaram medidas, para que fossem alteradas e implementadas políticas internas em prol da promoção à diversidade e inclusão. Admitindo falhas perpetuadas por anos por conta do Racismo Estrutural, empresas com plataformas gigantes como Google e Facebook, por exemplo, abriram várias iniciativas para apoiar criadores, empreendedores negros. Este é apenas um dos exemplos, que evidencia a força que temos juntos, a força de uma comunidade unida, como catalisador de mudanças e como a sua prática pode ser empoderadora para várias aspetos da sociedade.
O meu ativismo manifesta-se através do meu projeto AFROMARY. Um projeto que começou inicialmente na busca de respostas para muitas questões da minha identidade através da partilha de vídeos, dando espaço para discussões e partilha de experiências. Posteriormente, pela busca por mais representatividade negra, dando voz e visibilidade à várias pessoas e/ou projetos desta mesma comunidade. Acredito que ainda que o caminho seja longo, para que cheguemos a uma sociedade mais equilibrada em relação a questões sociais, a nossa iniciativa e proatividade é determinante para trazer mudanças.
Ativistas somos todos, sempre que nos posicionamos, sempre que nos manifestamos, sempre que tentamos dar ou criar poder em algo que defendemos, promovendo ações e/ou medidas que originem práticas transformadoras mais inclusivas, diversas e equilibradas para que todos possamos conviver em sociedade.
E tu, és ativista?
Mariama Injai